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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Madrugada a dentro e nem nasceu ainda...

Meu sono bagunçou um bocado até agora. 14 semanas. Tem dias que eu sinto um sono infinito e todo o meu tempo livre eu acabo dedicando à arte sagrada de dormir. Tem dias que ele simplesmente some. Geralmente quando fico pensando coisas demais.
E cá estou eu, as quase quatro da manhã. Quem sabe essa história de ficar de madrugada com o bebê não seja tão monstruoso quanto dizem. Afinal, eu sou uma criatura meio noturna.
Mas o que eu queria escrever hoje é diferente. Sobre o post anterior, sim eu procurei o tal cara, estamos conversando. Ele ficou mto chocado com a minha gravidez, eu fiquei bastante de saber que ele voltou com a ex, que não sente muita coisa por ela e está planejando casar com ela.
O mundo está bizarro mesmo.
Voltando, o que eu queria dividir hoje é algo mais profundo e menos pessoal. É algo que afeta várias gestantes na mesma situação que eu: o constrangimento social e silencioso que sofremos ao nos tornarmos mães solteiras.
Juro, se as pessoas soubessem metade do que rola na minha cabeça, elas não falariam muita coisa. O medo que bate, estou passando por isso sozinha e depois que o bebê chegar tudo o que ele tem sou eu. Bate medo de aguentar essa barra sozinha. Meu pai já se manifestou mais de uma vez de que na cabeça dele o que eu fiz foi errado, que eu deveria ter casado. E Deus, eu queria muito estar casada, fazer o que todo mundo acha que se tem que fazer. E eu fico muito chateada de o pai do meu filho sequer me procurar, sequer querer saber. Tudo o que o meu filho vai ter sou eu, pai e mãe, o acalento e o limite, o carinho, o ensino, tudo vai ser eu. E bate solidão. Bate solidão de um jeito muito diferente. Diferente de tudo que eu já senti porque boa parte disso é aprofundada pelos hormônios que fazem com que tudo seja mais intenso. Os dias que eu me sinto gorda, os dias que eu me sinto sozinha, tudo é de uma intensidade maior. E mesmo que as pessoas perguntam, é simplesmente difícil dividir as coisas que eu fico pensando na madrugada. Eu vejo os vídeos das pessoas contando pros pais que ficou grávida e é lindo, mas sempre são casais. Os videos de mulher dando a luz, sempre tem o marido, namorado. O que será que eu fiz pra ter recebido essa tarefa desse jeito? De não ter ninguém pra colocar a mão na minha barriga e sentir o coração do bebê batendo como eu faço todo dia? E ai vem uma enxurrada de coisas pior que a lama que bateu em Mariana (sim grávida tem uma coisa de exagerar), que eu nunca tive um relacionamento de verdade. Nunca comemorei um ano de namoro. Nunca tive um namorado pra planejar e sonhar com o casamento. Pra fazer surpresa. Como mesmo eu poderia me casar? Será que isso vai acontecer na minha vida? Se antes que eu era solteira já era difícil, com um filhote dá uma sensação de que a vida vai parar aqui. Dá um medo de que seja só eu e ele daqui pra frente. Bom, eu planejo ao menos em um futuro distante arrumar outro filho. Ai pronto, fiz minha família. Porque a família tradicional que eu conheci eu simplesmente não consigo acreditar que eu vou ter. E bate a todo momento a sensação de que isso é culpa minha de algum jeito. Culpa que eu vou carregar de não ter podido dar um pai legal pro meu filho. Culpa de não ter podido dar pros meus pais a alegria de seguir o modelo de família deles. Dá até medo do tamanho que essa criança vai ter na minha vida. Porque ela vai se tornar meu tudo, e eu vou acabar sufocando.
Enfim, eu vejo vídeos, fotos das mulheres curtindo a gravidez, sorrindo, achando lindo. E eu não sinto isso. Eu sinto é medo, é um corpo que está mudando e eu não sei se vai voltar, e pior, que eu acho que não vai ficar mto atraente (sinto dia após dia a vida sexual dando um tchauzinho bem lento). Sinto essa criança que eu sempre pensei que queria ter e agora ela é um problema pro mundo porque eu não tive ela do jeito que a sociedade diz que eu tenho que fazer. E na boa, é muito triste ter um filho que não seja fruto de uma relação amorosa.
E o medo maior que tem sido constante nesses dias é o de que eu honestamente não consiga ter alguém depois disso. Vão ser uns longos anos só eu e o bebê, e eu acho que de fato vou curtir muito a coisa toda de ser mãe, de ser dedicar, de passar noite em claro, de cuidar. Eu sempre quis fazer isso por alguém, de ser a companheira, a pessoa que faz. Só não imaginava que seria do meu bebê, achei que primeiro seria de alguém.
Ah, e a cereja do bolo dessa semana: surto de microencefalia no país com foco no nordeste. Férias em Aracaju com a família já eras. A família vai, eu vou ficar. O que eu acho que vai ser um ótimo jeito de encarar toda essa coisa da gravidez sozinha. As reportagens dizem que está ligado ao vírus Zika transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, que eh tipo o mosquito comum. Minha mãe comprou seis potes de repelente. E isso também bate insegurança, ter um bebê doente.

No fim de tudo o que sei é que eu preciso acreditar. Acreditar que esse bebê veio pra mim, veio de presente, veio pra mudar a minha vida e veio porque é uma coisa que eu sempre quis. E não vai ser fácil, que meus planos não só mudaram como foram deletados. Agora meu plano é ele. Eu e ele. E eu preciso acreditar que minha vida não acabou por mais difícil que isso seja, que vai mudar tudo, que a vida vai seguir o seu caminho. E tava no meu caminho ser mãe. E solteira. E mais ainda preciso acreditar que lá na frente vou sentir muito orgulho de mim por ter seguido com tudo isso sozinha. Que existe uma força maior em mim que quer construir as coisas a meus jeito. Que vai criar essa criança como uma ser humano bom, que acredita na vida, que vai ser feliz. E eu vou ser feliz sendo mãe. Nisso eu acredito.

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