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domingo, 15 de novembro de 2015

E tem aquele que a gente pensa...

Não vou negar, da mesma forma como pai do meu filho disse não nutrir sentimentos por mim, eu também não nutro sentimentos por ele. Não tivemos tempo. Em pouco tempo ele já se mostrou um machista, babaca, cabeça oca (e outros xingamentos que sempre rolam quando penso nele). Mas tudo isso eu sinto não porque ele me deixou grávida e abortou (ora, homem também aborta), mas por conta das atitudes dele no fim do nosso tão curto relacionamento.
Mas tem alguém que eu me pego pensando, e não nego que eu venho pensado bem mais depois de estar grávida. Acho que toda mãe solteira fica pensando em como teria sido se ela tivesse engravidado de outra pessoa. De outro cara que ela teve sentimento, de outro cara que ela achava mais bonito.
Tive algumas pessoas na minha vida, juro que teria amado se esse filho fosse do cara que eu sai antes, ele era loiro, meio ruivo, olhos azuis, meio viking. Eu tenho traços europeus também, teria saído uma criança linda digna da propaganda da Bélgica. Mas também podia ter sido filho de um cara que eu tive lá no passado, bem negro e forte, eu sempre tive uma queda por homem de tez mais escura, a criança ia sair tão linda! Mas essas pessoas eu só pensei foi mais pelos genes mesmo.
Na minha cabeça, as crianças deveriam ser filhos do amor, do afeto que une duas pessoas, mesmo que esse afeto não chegue a durar. Filhos do acaso não soa bonito. E até hoje na minha vida, só tive duas pessoas que eu amei, o primeiro foi o primeiro amor, aquele que tem cara de cinema, de cenas inesquecíveis, de abraços nus à luz do luar. Desse eu não tenho saudade, eu era outra pessoa, ele também. Quando a gente se encontra sempre fica um climão, sinto que bate coisas inexplicáveis na gente mas faz parte de um passado tão distante, onde a inocência da gente nutria toda a imaginação que a gente podia ter. Nunca foi possível, era etéreo, guardo com carinho, só isso.
O outro, aquele por quem tive sim um sentimento desmedido, imenso, intenso e gigante, esse sim, esse que vem morado nos meus pensamentos esses dias todos. Foi um caso complicado (que caso não é), vivemos duas semanas de paraíso juntos, aos poucos a gente foi se conhecendo e reconhecendo uma conexão mais que estranha, uma forte familiaridade, uma capacidade que ele tinha e até hoje só ele teve, de me deixar sem graça e corar. Mexeu muito comigo. Foi um amor que floresceu aos poucos, tudo seguiu um curso muito devagar, no seu tempo. Sequer nos beijamos no primeiro encontro. Mas ai do nada, ele travou, ele não conseguia seguir e ao mesmo tempo não me deixava ir. Ficamos nesse estica e puxa um ano e meio. Tentamos ser amigos, mas quando ele do nada me beijou, o mundo parou exatamente do mesmo modo como o mundo tinha parado da primeira vez que nos beijamos. Minha cabeça apagou, meu corpo pegou fogo. Mas ele não conseguia, tinha seus traumas, seus problemas. E aos poucos ele deu um jeito de me distanciar, de me fazer perder a vontade. Nesse jogo de puxar e manter no mesmo lugar, uma hora eu explodi, vomitei tantas coisas nele, tantas palavras fortes, uma maneira distorcida de fazê-lo ir. E ele foi. Recentemente sumiu das redes sociais, so vejo seu Whatsapp. Só lá ainda vejo aquela foto do dia que ele provou o óculos de armação redonda que eu achei que ficou tão lindo nele.
Tem sido uma constante pensar nele, ele que disse que eu seria a progenitora dele, ele que sonhava em ter uma família e casar. Ele que sempre andava tão alinhado e cheiroso. Ele que tinha aquele anel de São Jorge numa mão, um anel de formatura na outra. Ele que não era forte, nem musculoso, mas sua estrutura larga quando me abraçava fazia eu perder o ar. Ele que tinha aquela barba. Ele, ele, mil vezes ele. Em músicas na rádio, imaginando esbarrar com ele no shopping (e ainda me torturando mentalmente pensando que ele estaria com outra pessoa).
Um dia desses escrevi uma mensagem enorme, contei que estava grávida, falei da saudade, que era mesmo a saudade do bom dia, de falar via virtual que era a única coisa que a gente tinha. A mensagem simplesmente não ia, ficava naquele reloginho de que estava enviando. Horas depois eu mesma deletei.  Tão bobo, me faz tanta falta. Do "bom dia tia Lu"com voz animada no áudio saindo de casa. Esse contato virtual que era motivo de tantas brigas com ele, porque era o seu jeito de manter contato, ele não via a minha necessidade do real. Até das brigas que pareciam de casal mas não eram porque sentimentalmente nós tínhamos uma conexão que não era consumada.
Eu sinto falta dele, mas sinto ainda mais falta do que poderia ter sido, desse filho ter sido dele, porque sei que ele estaria comigo nas consultas. A possibilidade que eu teria de ter uma conexão eterna com ele. Mesmo que fosse só isso.

As vezes bate uma tristeza imensa, uma coisa inexplicável essa coisa de ser mãe solteira, de achar que nunca mais vou ter alguém, de saber que durante muito tempo vou ser eu e a criança, e que sequer cabe arrumar alguém no meio disso. De pensar que a vida acabou aqui, que serei mãe e só, que nunca sequer fui direito namorada de alguém e que agora serei mãe e só. Não que a ideia seja de todo ruim, mas quem é que quer ficar sozinha? Esse ideia de certa forma que me assombra, me dá uma certeza de que é um caminho. E agora sendo mãe e pai, bate essa incerteza e esse medo imenso de não conseguir ter mais ninguém. Bate isso o tempo todo.  Ao mesmo tempo que bate um alento imenso saber que agora eu tenho alguém pra depositar esse amor imenso que eu sempre quis dar pra alguém, alguém pra cuidar, pra dar tudo de mim e que merece esse meu tudo.

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