Arquivo do blog

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A fragilidade de uma mulher grávida

Devo dizer que fragilidade sempre foi um palavrão no meu vocabulário. Criada por uma avó que me dizia que a mulher deveria ser independente, fazer de tudo e sempre muito forte, a mulher seria o esteio da família. Sabe aquela história de que homem não chora? Era o que o meu pai me dizia, que eu não deveria chorar, só que eu não sou homem. Então eu cresci sempre acreditando que uma mulher deve ser acima de tudo forte. E isso não foi bom. Mas em algum momento da vida eu teria que encarar isso. Foi quando encontrei o ballet e entendi a delicadeza, a aparência frágil apenas como um jeito de esconder a força, a força estava lá mas então era permitido ser frágil.
Se em alguma fase da vida eu pude usar essa palavra de forma tão forte, nada se compara à agora. Tudo que eu sabia e aplicava na minha vida de repente não tem a certeza que se tinha. Porque a fragilidade agora não é um conceito, é uma sensação. Você sente o seu corpo mais frágil, menos resistente, menos energético. Tudo que eu sabia sobre a vida, sobre como lidar com as coisas, tudo vai por terra. Agora tenho uma vida em minha responsabilidade, ao mesmo tempo que é mágico, é assustador. Saber que qualquer atitude que eu tome agora, desde algo que eu coma até um remédio que eu tome, pode ter consequências irreparáveis pelo resto da vida do meu bebê. E infelizmente as pessoas que estão de fora não conseguem entender. Porque eles sequer conseguem imaginar o medo que a culpa provoca.
Outro ponto muito forte sobre a fragilidade dessa fase são as variações de hormônio. É uma espécie de TPM piorada umas três vezes ao menos. Então o que antes me deixava tocada, agora me faz chorar copiosamente. Olha que nem na minha TPM eu ficava assim tão emotiva. O contrário é tão forte quanto, minha irritabilidade está tão sensível quanto. Se eu já era uma pessoa meio teimosa, agora qualquer abordagem das pessoas de maneira mais forte desperta em mim uma raiva incontrolável. Fora que eu fiquei meio rancorosa, logo eu que sempre fui de passar por cima das coisas tão facilmente. Então estou tomando uma atitude quanto a isso, porque honestamente é desgastante ficar discutindo com as pessoas que na verdade não querem escutar, só a versão delas é a verdadeira. Eu não vou mais discutir, vou fazer como ouvi uma vez uma mulher grávida dizer "ok, quando for o seu filho você aja como quiser, com o meu, faço como eu acho melhor". Parece grosseria, de fato até é. Mas agora, com onze semanas, quase três meses de gestação, eu entendo completamente  o porque disso. Porque nos poupa, porque chega uma hora que a gente cansa. Que a gente quer ficar em paz.
Talvez essa fragilidade toda tenha me trazido essa certa vontade de ficar mais sozinha, de evitar mais o contato social. De fato antes eu era sempre a pessoa que não queria ir embora dos encontros, hoje sempre chega o momento que eu canso, que me bate um cansaço e eu preciso ir. E nunca na vida me senti tão inclinada a respeitar isso.
As pessoas de modo geral não entendem, sequer chegam a pensar nisso dessa forma, mas pra mim é uma daquelas coisas que não são explicáveis, que só sentindo pra saber. Até porque eu posso dizer com toda a certeza do mundo de que antes de engravidar eu não compreendia o quanto engravidar muda a gente. É uma transformação intensa em graus tão diferentes. Me sinto completamente uma pessoa diferente e também sei que a mudança vai continuar, até o final da gestação acho que vou ser outra pessoa bem diferente de agora. Talvez mais ciente da minha fragilidade, talvez mais humana. Com certeza diferente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário